Revisão de crenças

Revisão de crenças é o processo de alterar um estado de crenças (ou estado epistêmico) para acomodar novas informações. A formalização lógica de revisão de crenças é pesquisada em filosofia, banco de dados e inteligência artificial, com o intuito de desenvolver agentes racionais.

O que torna revisão de crenças não trivial é a existência de diversas formas diferentes de se modificar um estado de crenças face a novas informações. Por exemplo, considere um estado de crenças onde as seguintes afirmações são verdadeiras (ou acreditadas): "João é um padre" e "Padres não são casados". Se o agente que detêm essas crenças recebe a informação "João é casado", seu estado de crenças se torna inconsistente, e para resolvê-lo ele deve eliminar uma das afirmações. Nesse caso, então, existem pelo menos três formas de realizar a revisão. Em geral, diversas maneiras de alterar uma base de conhecimentos são possíveis.

O Paradigma AGM

A teoria predominante em revisão de crenças é a teoria conhecida como Paradigma AGM (nome faz referência aos autores: Alchourrón, Gärdenfors e Makinson)[1]. Nessa teoria os autores sugerem a representação do estado de crenças através de um conjunto de sentenças lógicas dedutivamente fechado, chamado conjunto de crenças. Sobre esse conjunto, três operações são previstas: expansão, contração e revisão. A expansão é a mera adição de uma nova sentença seguida do fechamento lógico do conjunto. A contração é a eliminação de uma crença (o conjunto resultante não deve implicar logicamente a crença contraída). A revisão é a adição de uma nova crença (como na expansão), mas com o requerimento adicional de que o conjunto resultante deve ser consistente.

A operação de expansão é única, mas no caso de contração e revisão diversas operações são possíveis. Os autores apenas delimitam as possíveis operações exigindo que elas obedeçam alguns postulados de racionalidade. Considerando que {\displaystyle -} representa a operação de contração, C n {\displaystyle Cn} é o operador de consequência da lógica proposicional clássica, K {\displaystyle K} é um conjunto de crenças, α , β {\displaystyle \alpha ,\beta } são sentenças e K + α = C n ( K { α } ) {\displaystyle K+\alpha =Cn(K\cup \{\alpha \})} , os seis postulados AGM para contração são:

  1. (fechamento) K α = C n ( K α ) {\displaystyle K-\alpha =Cn(K-\alpha )}
  2. (sucesso) Se α C n ( ) {\displaystyle \alpha \notin Cn(\emptyset )} , então α K α {\displaystyle \alpha \notin K-\alpha }
  3. (inclusão) K α K {\displaystyle K-\alpha \subseteq K}
  4. (vacuidade) Se α K {\displaystyle \alpha \notin K} , então K α = K {\displaystyle K-\alpha =K}
  5. (recuperação) K ( K α ) + α {\displaystyle K\subseteq (K-\alpha )+\alpha }
  6. (extensionalidade) Se C n ( α ) = C n ( β ) {\displaystyle Cn(\alpha )=Cn(\beta )} então K α = K β {\displaystyle K-\alpha =K-\beta }

Ver também

Referências

  1. Alchourrón, C., Gärdenfors, P. e Makinson, D. (1985) On the logic of theory change: Partial meet contraction and revision functions. Journal of Symbolic Logic